sábado, 26 de março de 2011

Colecionar: prazer ou doença?

Até onde o colecionismo pode ser considerado uma prática saudável? Como detectar se estamos ou não colecionando coisas por obsessão ou compulsão?

E o colecionismo, faz parte desse quadro?

Um tipo de compulsão menos comum e pouco conhecido é o ritual de colecionamento ou colecionismo, que se caracteriza pela necessidade de acumular ou incapacidade de se desfazer de diversos tipos de objetos de pouca ou nenhuma utilidade, mesmo quando considerados pelos outros como sem valor. Exemplos seriam brinquedos ou aparelhos quebrados, jornais, revistas e cadernos velhos, anotações, listas, notas fiscais e receitas antigas, embalagens inúteis, roupas que já não servem há anos, ou mesmo papéis de bala e coisas encontradas na rua (folhas, pedrinhas, latas, tampas e outros). A pessoa pode temer alguma conseqüência ruim imaginária caso não recolha aquilo ou se sente muito ansiosa se não pegar, como se algo estivesse errado ou “faltando”. É comum o medo de jogar fora inadvertidamente alguma coisa importante ou algo que possa vir a ser útil ou fazer falta no futuro. Como o indivíduo não consegue ter certeza de que aquele objeto pode mesmo ser jogado ou doado, por segurança acaba guardando tudo ou quase tudo.

Quais as conseqüências desse tipo de distúrbio?

Em casos mais graves, a casa pode se tornar um grande depósito de quinquilharias, onde mal se consegue andar. Conflitos familiares costumam ocorrer, pois pode ficar difícil limpar a casa ou cozinhar, encontrar coisas importantes e mesmo receber visitas.

E quando o colecionismo se torna patológico?

É fundamental diferenciar os colecionadores que o fazem por hobby, prazer ou razões afetivas, daqueles que guardam coisas inúteis por incapacidade de decidir ou medo de serem responsabilizados por descartar algo importante. Mesmo querendo racionalmente jogar ou não acumular, sentem-se obrigados a fazê-lo, por ansiedade, insegurança, indecisão ou medo. A doença seria, assim, uma imposição, uma perda da liberdade de optar, de agir conforme seu próprio desejo, algo que causa sofrimento e atrapalha a vida. Colecionar por gosto, por livre escolha, sem que isso atrapalhe os outros compromissos da vida diária, com certeza não é doença. É importante ressaltar que compulsões de colecionamento podem ocorrer em outros tipos de transtornos mentais além do TOC, como, por exemplo, nas demências, oligofrenias e esquizofrenias. Só um especialista poderá fazer o diagnóstico com precisão.
Minha estranha coleção de selos de barcos !


 Existe diferença entre consumismo (quando a pessoa não consegue ficar sem comprar) e o colecionismo? Os dois têm a ver com essa doença?


Não necessariamente. Algumas pessoas não conseguem resistir ao impulso de comprar coisas de que de fato não precisam. Nesse caso, trata-se de um transtorno de controle de impulsos, que envolve prazer no ato (da compra, por exemplo) e em geral arrependimento posterior, em função das conseqüências negativas desse comportamento (exemplo: críticas, brigas, dívidas, etc). Como já ressaltado, a compulsão é diferente do impulso: consiste em um certo sacrifício na hora, para obter algum alívio, mesmo que muito fugaz. Algumas pessoas, porém, podem apresentar comportamentos compulsivos e impulsivos associados, inclusive de comprar impulsivamente e guardar compulsivamente.

Como o paciente e/ou as pessoas mais próximas devem proceder para ajudar a iniciar um tratamento?

O primeiro passo para obter ajuda é a pessoa e seus familiares entenderem que o problema é uma doença passível de tratamento. O portador deve se conscientizar de que vale a pena se tratar, pois o tratamento visa lhe restituir a liberdade de escolha, melhorar sua qualidade de vida, produtividade e bem-estar.

Fale sobre o tratamento mais adequado.

Em geral a associação de psicoterapia com medicamentos específicos. A linha de psicoterapia considerada mais eficaz para os sintomas do TOC é a cognitivo-comportamental e os principais psicofármacos são os antidepressivos serotoninérgicos. Conhecer o transtorno e aprender o mecanismo de manutenção dos sintomas para conseguir vencê-los é parte muito importante do tratamento, cuja duração é variável.

Eu ainda nao quero vendar nada ! He he he ! Mas também quase não compro mais nada (por falta de espaço ! )

Fonte : Entrevista da médica psiquiatra paulista Albina Rodrigues Torres

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