domingo, 28 de agosto de 2011

Economia dos EUA - sem valor e mais-valia, não rola !!

A economia mundial está entrando em desastrosa desaceleração. O banco central dos EUA não recebe fluxo de valor e de mais-valia suficiente para expandir o crédito e desviar o sistema da falência – e, sem valor e mais-valia, não rola


JOSÉ MARTINS diz :

Acumulam-se sinais de que economia mundial está entrando em uma desastrosa desaceleração. O cenário de continuidade da expansão cíclica está rapidamente deixando de ser o mais provável. Nas últimas semanas, a possibilidade de um duplo mergulho na crise ganhou muitos pontos.

No dia 9 de Agosto de 2011, o presidente do Federal Reserve (Fed., banco central dos EUA), Ben Bernanke, anunciou uma medida de política monetária totalmente inédita na história do regime capitalista: a taxa básica de juros do Fed. permanecerá próxima de zero pelo menos até meados de 2013.

Os japoneses mantêm desde os anos 1990 a sua taxa de juros congelada neste tenebroso mundo das taxas superzero. Mas nunca anunciaram um compromisso oficial de congelamento da taxa. Apenas obedeceram passivamente as determinações de uma economia em longo processo deflacionário – há mais de dez anos os preços caem no Japão. De todo modo, uma coisa é o Japão, outra coisa é os EUA. Se a economia de ponta do sistema – cujo crescimento, aliás, mantém funcionando em stand-by a moribunda economia japonesa – estiver também a entrar em um processo deflacionário, é sinal que a vaca realmente está indo para o brejo. Vamos aos fatos.

ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL

– Bernanke sente o cheiro de problemas seríssimos no curto-prazo. É isso que ele está a dizer com seu anúncio. Depois do Congresso dos EUA decretar que o Tesouro deve fechar suas torneiras de endividamento e de mais gastos fiscais para estimular a economia, agora é o seu banco central que anuncia o fechamento das suas portas de liquidez para o mercado.

Bernanke não é ingênuo, é um economista que não fala bobagem e muito menos age sem pensar. O importante é que sua destemperada medida anuncia oficialmente que a economia norte-americana já se encontra envolvida pela

armadilha da liquidez e, consequentemente, pela deflação. Se isso for verdadeiro, a coisa é muito grave: deflação e a armadilha da liquidez são fenômenos típicos dos períodos de crise e tendência à depressão. Tanto o Tesouro quanto o banco central ficam impotentes para agir. As redes protetoras do Estado desaparecem. O sistema fica à deriva, os comandos não funcionam.

Já previmos há muitos boletins atrás esse funesto destino de a economia estadunidense cair na armadilha da liquidez e na deflação, onde explicamos longamente o significado desses fenômenos. Bem resumidamente, podemos repetir que deflação é a tendência crônica à queda do valor do capital e dos diversos rendimentos da economia: lucros, juros, salários, etc. O sistema sofre uma abrupta queda de pressão arterial e começa a ter tremores e calafrios, dificuldade de respirar, sensação de que a morte está próxima – o sistema entra em um processo de desvalorização, de desfalecimento do mercado e do capital.

Armadilha da liquidez é aquela situação do ciclo econômico em que quanto mais o mercado ou o banco central rebaixa a taxa básica de juro de uma determinada economia, aumentando com isso a quantidade de meios de pagamento e de crédito no sistema – mais diminuem os volumes de empréstimos demandados pelas empresas e ofertados pelos bancos. Ocorre um travamento do sistema de crédito. Uma desintermediação do crédito, dizem os economistas.

Isso ocorre porque, na situação de uma baixíssima ou inexistente taxa geral de lucro, as empresas ainda solventes não têm nenhum interesse em realizar investimentos na produção e no comércio com o dinheiro barato oferecido pelos bancos. Os bancos ficam sem demanda por empréstimos. Por seu turno, não se interessam também em rolar dívidas de empresas (ou bancos) insolventes sem fluxo de caixa para honrar seus compromissos. O mercado fica sem oferta de crédito e a circulação do capital se interrompe em diversos pontos do sistema circulatório. Um acidente cerebral vascular (AVC), como diriam os médicos.

SEM MAIS-VALIA NÃO ROLA

– Quando Bernanke anunciou aquela medida aparentemente tresloucada – apenas aparentemente, claro – os senhores do mercado ficaram indecisos. Não entenderam muito bem o que significava a mensagem papal. Ou, pelo menos, preferiram não enfrentar de frente a gravidade da situação – faz de conta que não é comigo! Primeiro, presenciou-se uma tendência de fuga do capital fictício dos ativos financeiros (papeis e commodities). Entretanto, no mesmo dia, o mercado reverteu, as ações tornaram a subir e, nos dias seguintes, a alcançar os níveis de antes da crise do Congresso e do rebaixamento dos bônus estadunidenses para AA+ pela Standard & Poor’s. O medo do risco diminuiu – até a Miriam Leitão ficou mais confiante.

Mas a breve calmaria dos mercados demorou pouco tempo. No dia 18 de Agosto, as bolsas voltaram a cair pesadamente, apagando a fugaz recuperação de pouco mais de uma semana. A causa? Dois fatos financeiros gravíssimos que os capitalistas mais espertos já estão a perceber.

Primeiro, resta muito pouco vigor fiscal para o Tesouro dos EUA aumentar suas dívidas. Menos ainda na Zona do Euro, que nem Tesouro único tem. A palavra grave tem que ser novamente utilizada. Se estiver correta essa avaliação, uma derrocada fulminante da produção e do desemprego nos dois lados do Atlântico é mais provável que seis meses atrás.

Segundo o banco central dos EUA (do mundo, pode-se dizer) não recebe fluxo de valor e de mais-valia suficiente para expandir o crédito e os meios de pagamento e desviar o sistema da falência – e, nunca é demais repetir, sem valor e mais-valia não rola. É uma grande bobagem acreditar que os Tesouros e os bancos centrais dos governos, por mais poderosos que sejam, sempre terão dinheiro suficiente para salvar as empresas capitalistas da falência. Se a perspectiva de crescimento da produção e da produtividade está rateando, o tamanho do rombo a ser preenchido pelas finanças públicas passa a ser um problema difícil de ser remediado. Começando pelos bancos.

Vamos aos números. Em nenhum momento dos últimos sessenta anos estiveram tão precários a rentabilidade e o consequente valor de mercado dos maiores bancos dos EUA e da Europa – no dia 10 de Agosto, havia 186 empresas financeiras localizadas nos EUA sendo comercializadas por um valor de mercado próximo de 50% do valor contabilizado dos seus ativos, incluindo Bank of America, Citigroup, Morgan Stanley, AIG, etc. De acordo com dados colhidos pela Bloomberg, o valor de mercado conjunto dessas empresas situava-se em US$ 300.5 bilhões, comparado com US$ 686.4 bilhões do valor contábil.
 A mesma história acontece na Europa atingida pela crise do crédito público. As 32 companhias do Euro Stoxx Banks Index (ESBI) tinham, no mesmo dia 10 de Agosto, um valor de mercado de 313.2 bilhões de euros (US$ 444 bilhões) e um valor contábil conjunto de 620.5 bilhões de euros. O francês Credit Agricole, por exemplo, o terceiro maior do índice ESBI, era comercializado nas bolsas por 34 % do seu valor contábil. Trata-se dos maiores bancos do mundo. E esses números mostram o valor do seu capital sendo diluído e tende a desaparecer. A falência espreita na próxima esquina.

Fonte : http://www.paginadoenock.com.br/home/post/9496
JOSÉ MARTINS,economista do Núcleo de Educação

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